IV F.EST.A – FESTIVAL ESTUDANTIL DE AUDIOVISUAL

Escrito por Ítalo Viana

Em clima de festa, o Imagina! Circuito Permanente de Audiovisual promoveu nos dias 25, 26 e 27 de novembro a quarta edição do Festival Estudantil de Audiovisual (F.EST.A). O evento ocorreu no Colégio Estadual Dr. Antônio Ricaldi, do Complexo Integrado de Educação Básica de Porto Seguro, no centro da cidade. Essa edição marca a volta do festival às atividades presenciais. A programação contou com sessões de exibição de curtas-metragens produzidos por estudantes de todo estado da Bahia, oficinas, roda de conversas e o pré-lançamento do livro Imagina! Cinema, território e educação. “Eu acredito que ele [o F.EST.A.] acaba cumprindo uma função importante por permitir aos jovens realizadores se reconhecerem na tela e poderem colocar em perspectiva sua própria produção”, conta Cris Lima, professora da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e uma das organizadoras do festival. Por ser um festival itinerante, o F.EST.A carrega essa ideia interdisciplinar da UFSB, oferecendo aos alunos diferentes perspectivas de estudantes de todo o estado baiano e de diferentes cursos, interculturalizando através da tela.

1º dia de F.EST.A

O evento se iniciou logo pela manhã do dia 25 de novembro com a oficina “Cinema de Animação” em colaboração com o Coletivo ÌTÀN: Cinema Negro de Animação, oferecido exclusivamente para estudantes da Escola Indígena de Coroa Vermelha. Os estudantes produziram pequenos curtas utilizando as três técnicas de animação tradicional: massinha, recortes e desenho.

Logo mais tarde, às 18h30, ocorreu a abertura oficial do evento com a exibição de curtas-metragens na sessão intitulada “Cinema, memórias e afetos”, trazendo perspectivas inovadoras dos estudantes.

Primeira sessão de curtas-metragens “Cinema, memórias e afetos”
Foto: Luna

2º dia de F.EST.A

O segundo dia do evento foi bem animado com a realização das oficinas “Audiovisual e memória, experimentando ouvir e ver”, ministrado pelo professor Alcyone Gilberto, e “Produção Executiva e Produção de set: duas faces da organização e da correria no audiovisual”, ministrado pela professora Clarissa Santos.

Segundo dia de F.EST.A
Foto: Ítalo Viana

“A memória é uma questão de poder” conta Luna, 24 anos, estudante do BI Artes da UFSB do campus Sosígenes Costa (CSC) e participante da primeira oficina. A aluna reflete sobre como a veiculação da memória nos veículos de comunicação é voltada para histórias embranquecidas, masculinas e normativas que, com a repetição, vão se sobrepondo às outras narrativas que já existem. Ela ressalta a importância da atenção que temos que ter no fortalecimento dessas memórias sobrepujadas nas produções audiovisuais. A oficina despertou ainda na estudante a sensibilidade para um olhar sobre como as afetividades estão ligadas às relações de poder entre memória, veiculação e informação. “Se a gente tem muitas referências de uma só história e essa história protagoniza as narrativas que são múltiplas e plurais, então o nosso imaginário coletivo cria uma memória enraizada e marinada nessa informação. Então refletir sobre isso foi muito legal”, aponta a estudante.

A segunda oficina do dia focou em trazer as diferenças e as aproximações da função de produção executiva e da produção de set em filmes de baixo orçamento, como editais de financiamento e o papel do produtor executivo e produtor de set. Os participantes experimentaram a criação de uma parte de um orçamento a partir de uma planilha disponibilizada e criaram uma ordem do dia a partir de uma cena de um filme. “A ideia é que a oficina facilite a participação dessas pessoas nos próximos editais e já tenham esse domínio da documentação e também saibam como essas funções se organizam”, explica Clarissa Santos, idealizadora da oficina, professora assistente da UFSB e uma das organizadoras do F.EST.A.

No período da tarde o festival abriu espaço para uma roda de conversa sobre audiovisual e políticas culturais no sul da Bahia. A roda contou com a participação de Míriam Conceição da Silva, do Instituto Brasil Chama África e Projeto Vila Criativa – Santo André, e Carleone Filho do Centro Municipal de Pesquisa, Educação e Cultura de Porto Seguro (CEMPEC), para discutirem sobre políticas culturais, demandas sociais e possibilidades para o audiovisual na região. Eles trouxeram histórico de produção audiovisual em Porto Seguro e explicaram os desafios enfrentados por agentes culturais. Abordaram ainda a atuação da UFSB na colaboração do trabalho desses agentes culturais e as perspectivas da retomada às atividades presenciais e suas adaptações em um período pós-pandemia.

O festival seguiu com a segunda mostra de curtas-metragens pela noite com o tema “Cultura, performances e processos de criação”

3º dia de F.EST.A

No terceiro e último dia do evento, tivemos o pré-lançamento do livro Imagina! Cinema, território e educação, que já está em fase de finalização. A publicação conta com a colaboração de dez pessoas entre discentes e docentes e será lançado pela Editora Telha. Alguns dos autores estiveram presentes e puderam compartilhar suas experiências e contribuições para a criação do livro que será distribuído gratuitamente às instituições parceiras do Imagina, estimulando reflexões sobre a experiência cinematográfica vivida na universidade, nas escolas, nos espaços culturais, nas aldeias, nas ruas das cidades.

Terceiro dia de F.EST.A
Foto: Italo Viana

Assistimos também à exibição da terceira sessão de curtas-metragens, “Solta o Som” e presenciamos a exibição de filmes mudos com execução de trilha sonora ao vivo por alunos da UFSB e do professor Daniel Puig e da professora Ariane Stolfi, dentro do projeto Imagina! Reverbera, além de uma apresentação improvisada que prendeu a atenção de todos.

PÓS PANDEMIA

Volta às atividades presenciais
Foto: Ítalo Viana

Esse ano marcou a volta do festival às atividades presenciais desde o início da pandemia do Covid-19. O Imagina! enfrenta esse desafio de recomeçar este trabalho de formação do público. “Eu sinto que é como se a gente estivesse recomeçando o trabalho que a gente fez em 2018”, conta Clarissa Santos. O evento teve início em 2018, partindo para sua segunda versão em 2019. Em 2020, por conta da pandemia, tiveram que pensar em outros meios de realizar o evento e em 2021 realizaram sua terceira edição de forma remota. “Estamos retomando com um fôlego que é o esperado mesmo. É uma boa resposta do território e da Universidade para o festival. Queremos, sim, que o festival cresça ano a ano, mas pensando no cenário que a gente está, um primeiro festival depois da pandemia, está incrível, as pessoas estão vindo, participando das oficinas, estão assistindo aos filmes. Para mim o saldo é muito positivo.” comenta Clarissa. Apesar de todos os efeitos sociais, econômicos e psicológicos da pandemia, essa edição do evento foi bastante otimista, com um público animado e participativo. Afinal, o nome “F.EST.A.” não foi pensado à toa, como conta Cris Lima: “A gente acredita mesmo no caráter festivo e de encontro do festival […], estar com as pessoas, poder socializar depois das sessões é uma coisa muito importante, porque a gente sabe que uma cena artística e cultural não se faz apenas com apresentações, mas também com o tempo partilhado, com a convivência, com os encontros nos corredores”. O festival conseguiu proporcionar essa experiência com maestria e com todos os cuidados necessários para proteção contra a Covid-19.  Dessa forma, o evento reafirma seu nome na integração de estudantes nas práticas do audiovisual, abrindo espaço para produções ricas e traduzidas por diferentes perspectivas.

Equipe Organizadora do IV F.EST.A
Foto: Dario Honorato

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